quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Privilégio injusto? Mesmo?!


Olá pra você. Resolvi escrever este texto após receber ontem uma sms de um amigo que estaria indignado com a aprovação por parte da Alerj do projeto de lei que reserva 5% das vagas em concursos públicos para ex-detentos. Acredito que meu amigo tenha feito este comentário esperando uma reação também de indignação vinda de minha parte (risos). Pois bem, não estou indignada, mas tal notícia me fez refletir sobre cotas e recuperação de presidiários. Após ler a notícia e também ler o que alguns “internautas” pensam sobre isso, pensando nos prós e contras, cheguei à conclusão de que acho de fato uma boa ideia e deixo o espaço aberto para quem quiser discordar de mim!

Hoje a situação nos presídios brasileiros é de caos total e isso não é novidade pra ninguém, é aquela história que todo mundo sabe: o cara não paga pensão e é jogado na mesma cela que um traficante, que um assassino e outros mais. Os motivos que levam alguém a cometer qualquer crime são inúmeros (não que justifique o crime em si): insanidade, necessidade financeira, safadeza, pilantragem, influência, meio social, revolta, ódio, paixão, enfim! Cada caso é diferente com apenas um único fim para os que vão parar na prisão: geralmente voltam de lá ainda piores! Devido às violações dos direitos humanos, à convivência com outros presos e à necessidade de sobrevivência dentro da cadeia.  Mas fora esta grande parcela de não-recuperados, há os que pagam por seus crimes e saem de lá RECUPERADOS e querem realmente construir uma vida digna aqui fora, e quando chegam aqui recebem portas fechadas por serem ex-presidiários. Então eu pergunto: após pagar dentro da cadeia por seus crimes, chegar aqui fora e sofrerem preconceito, esses seres humanos não merecem uma segunda chance de reconstruir sua vida e receber desta forma (com a cota) um incentivo para estudar, se tornar alguém e poder viver dignamente sem ter que recorrer a meios ilícitos?

Muitos comentários que li aqui na internet diziam: “Ah, até o Fernandinho Beira-Mar terá mais chance de entrar num cargo público do que eu! Isso é um absurdo!”
E eu volto com a pergunta: você consegue imaginar a cena deste camarada saindo da cadeia e pensando: “Agora vou estudar bastante pra ser auxiliar administrativo em uma empresa estatal.” (e ele vai ter que estudar MESMO, porque não é porque existe a cota que será fácil conseguir a nota mínima!)
Conseguem imaginar? Eu não. O que quero dizer é que não há motivo para tal alarde, porque como eu disse no início, hoje o sistema penitenciário brasileiro não corrige bandido, ele pune e joga aqui fora como mais um problema e quem paga o pato somos nós, os “não-infratores”. Os ex-detentos que irão concorrer a tais vagas serão os que realmente “aprenderam a lição” e estão empenhados em um reestabelecimento na vida. Não haverá uma demanda enorme de ex-detentos querendo concorrer a vagas em concursos públicos, não haverá pessoas querendo ser presas para concorrerem às vagas reservadas (sim, eu li opiniões de pessoas dizendo isso), apenas os que estão interessados recebem a partir de agora um incentivo para se empenharem nisso. E se não houver gente suficiente para preencher as vagas reservadas, tais vagas irão para os outros candidatos (nós, os não-infratores).

Hoje temos vagas reservadas para deficientes físicos, por um acaso um paraplégico é menos capacitado intelectualmente do que eu? Não! Ele recebe a vaga como para aumentar suas chances de conseguir um emprego (coisa muito difícil quando não há cotas). Então eu não deveria me indignar com isso também? Mas aí a sociedade não fica indignada, porque acha que o deficiente é um “coitado” e o ex-detento é BANDIDO e sempre será. Mentalidade de egoístas que nunca conheceram, conviveram ou se interessaram por conhecer um ex-detento que quer realmente ascender na vida.
Ouvi um outro argumento dizendo que a ideia é boa, mas só quem vai ter capacidade de passar nos concursos são os que cometem crimes do “colarinho branco”, porque esses sim são os inteligentes. Como assim? Quer dizer que só os “ricos” tem capacidade intelectual para passar em concurso público? Se o cara de qualquer camada social realmente se esforçar ele tem tanta capacidade de passar quanto o “do colarinho branco” e outra coisa, quando nos referimos a “vaga em concurso público” há desde as vagas de nível fundamental até às de nível superior . E cá entre nós, quantos infratores de “colarinho branco” vocês conhecem que estão presos? E quantos destes que estão presos (supondo que você lembre de algum) você acha que estão realmente interessados em tornarem-se servidores públicos?

Resumindo: o melhor seria que nosso sistema penitenciário oferecesse uma recuperação de verdade para os detentos e tivéssemos paralelo a isto um trabalho árduo na prevenção de tais crimes, mas enquanto isso ainda é uma realidade longínqua, eu acho sim que esta é uma boa iniciativa!

É isso, tentei resumir ao máximo minhas ideias e ainda assim o texto ficou grandinho. Rs. Como disse no início, deixo o espaço aberto para discordarem de mim (com educação e bom senso, claro). ;)
Abraços e obrigada pela visita!