Olá pra você. Resolvi
escrever este texto após receber ontem uma sms de um amigo que estaria
indignado com a aprovação por parte da Alerj do projeto de lei que reserva 5%
das vagas em concursos públicos para ex-detentos. Acredito que meu amigo tenha
feito este comentário esperando uma reação também de indignação vinda de minha
parte (risos). Pois bem, não estou indignada, mas tal notícia me fez refletir
sobre cotas e recuperação de presidiários. Após ler a notícia e também ler o
que alguns “internautas” pensam sobre isso, pensando nos prós e contras,
cheguei à conclusão de que acho de fato uma boa ideia e deixo o espaço aberto
para quem quiser discordar de mim!
Hoje a situação nos presídios brasileiros é de caos total e
isso não é novidade pra ninguém, é aquela história que todo mundo sabe: o cara não
paga pensão e é jogado na mesma cela que um traficante, que um assassino e
outros mais. Os motivos que levam alguém a cometer qualquer crime são inúmeros
(não que justifique o crime em si): insanidade, necessidade financeira,
safadeza, pilantragem, influência, meio social, revolta, ódio, paixão, enfim!
Cada caso é diferente com apenas um único fim para os que vão parar na prisão:
geralmente voltam de lá ainda piores! Devido às violações dos direitos humanos,
à convivência com outros presos e à necessidade de sobrevivência dentro da
cadeia. Mas fora esta grande parcela de
não-recuperados, há os que pagam por seus crimes e saem de lá RECUPERADOS e
querem realmente construir uma vida digna aqui fora, e quando chegam aqui
recebem portas fechadas por serem ex-presidiários. Então eu pergunto: após
pagar dentro da cadeia por seus crimes, chegar aqui fora e sofrerem
preconceito, esses seres humanos não merecem uma segunda chance de reconstruir
sua vida e receber desta forma (com a cota) um incentivo para estudar, se
tornar alguém e poder viver dignamente sem ter que recorrer a meios ilícitos?
Muitos comentários que li aqui na internet diziam: “Ah, até
o Fernandinho Beira-Mar terá mais chance de entrar num cargo público do que eu!
Isso é um absurdo!”
E eu volto com a pergunta: você consegue imaginar a cena deste camarada saindo
da cadeia e pensando: “Agora vou estudar bastante pra ser auxiliar
administrativo em uma empresa estatal.” (e ele vai ter que estudar MESMO,
porque não é porque existe a cota que será fácil conseguir a nota mínima!)
Conseguem imaginar? Eu não. O que quero dizer é que não há motivo para tal
alarde, porque como eu disse no início, hoje o sistema penitenciário brasileiro
não corrige bandido, ele pune e joga aqui fora como mais um problema e quem
paga o pato somos nós, os “não-infratores”. Os ex-detentos que irão concorrer a
tais vagas serão os que realmente “aprenderam a lição” e estão empenhados em um
reestabelecimento na vida. Não haverá uma demanda enorme de ex-detentos
querendo concorrer a vagas em concursos públicos, não haverá pessoas querendo
ser presas para concorrerem às vagas reservadas (sim, eu li opiniões de pessoas
dizendo isso), apenas os que estão interessados recebem a partir de agora um
incentivo para se empenharem nisso. E se não houver gente suficiente para
preencher as vagas reservadas, tais vagas irão para os outros candidatos (nós,
os não-infratores).
Hoje temos vagas reservadas para deficientes físicos, por um
acaso um paraplégico é menos capacitado intelectualmente do que eu? Não! Ele
recebe a vaga como para aumentar suas chances de conseguir um emprego (coisa
muito difícil quando não há cotas). Então eu não deveria me indignar com isso
também? Mas aí a sociedade não fica indignada, porque acha que o deficiente é um
“coitado” e o ex-detento é BANDIDO e sempre será. Mentalidade de egoístas que
nunca conheceram, conviveram ou se interessaram por conhecer um ex-detento que
quer realmente ascender na vida.
Ouvi um outro argumento dizendo que a ideia é boa, mas só
quem vai ter capacidade de passar nos concursos são os que cometem crimes do “colarinho
branco”, porque esses sim são os inteligentes. Como assim? Quer dizer que só os
“ricos” tem capacidade intelectual para passar em concurso público? Se o cara
de qualquer camada social realmente se esforçar ele tem tanta capacidade de
passar quanto o “do colarinho branco” e outra coisa, quando nos referimos a “vaga
em concurso público” há desde as vagas de nível fundamental até às de nível
superior . E cá entre nós, quantos infratores de “colarinho branco” vocês conhecem
que estão presos? E quantos destes que estão presos (supondo que você lembre de
algum) você acha que estão realmente interessados em tornarem-se servidores
públicos?
Resumindo: o melhor seria que nosso sistema penitenciário
oferecesse uma recuperação de verdade para os detentos e tivéssemos paralelo a
isto um trabalho árduo na prevenção de tais crimes, mas enquanto isso ainda é
uma realidade longínqua, eu acho sim que esta é uma boa iniciativa!
É isso, tentei resumir ao máximo minhas ideias e ainda assim
o texto ficou grandinho. Rs. Como disse no início, deixo o espaço aberto para
discordarem de mim (com educação e bom senso, claro). ;)
Abraços e obrigada pela visita!