terça-feira, 2 de agosto de 2011

Impedindo um ato solidário.

Como primeiro assunto a ser apresentado, decidi falar de algo que aconteceu com um amigo (por respeito à privacidade dele, usarei o nome fictício "Ivo").

Qual a importância da doação de sangue? Resposta: ENORME. É um ato de solidariedade, de amor ao próximo, e se todas as pessoas que podem doar sangue, assim fizessem, não teríamos tanta falta nos bancos.


O Ivo é saudável e não é promíscuo, é respeitável, inteligente e sabe se cuidar. Semana passada, Ivo foi doar sangue, ao chegar no local encontrou um rapaz que perguntou se ele iria doar para alguém especificamente ou se era voluntário, ele respondeu que era voluntário. O rapaz então, pediu encarecidamente que ele doasse para o pai dele e o Ivo aceitou, sentindo-se provavelmente até mais motivado a doar, pois estaria fazendo um bem para alguém que ele sabia que estaria precisando naquele momento e que deixaria aquele filho feliz e mais aliviado. Então se dirigiu para todo o processo burocrático necessário, deu o nome, identidade e foi responder ao questionário. Conforme orientado, respondeu tudo com sinceridade.
Havia uma pergunta (que é especificamente direcionada a homens):
"Fez sexo com outro homem no período de 1 ano?"
Ivo: Sim.
"Quantos parceiros sexuais você teve nesse período de 1 ano?"
Ivo: 2
Ele inocentemente não sabia que essas duas respostas eram o suficiente para IMPEDÍ-LO de ser um doador. Ainda assim ele seguiu até a sala indicada e lá confirmou as 2 respostas mais uma vez. A médica educadamente informou que ele não poderia doar sangue em virtude disso.. Provavelmente constrangido, Ivo disse que entendia que não era culpa dela, mas que era um absurdo aquilo, pois ele sabia que não era promíscuo e era só examinar o sangue. Saiu de lá chateado, constrangido e revoltado.

Não sei se a história foi EXATAMENTE assim, mas a mensagem acredito que foi entendida. Tudo isso me deixou pensando: "Vale a pena toda essa burocracia para um ato solidário?"
Acredito sim que o número de parceiros que uma pessoa tem no período de 1 ano seja um fator importante para identificarmos algum tipo de comportamento não cuidadoso, mas isso deveria valer para qualquer tipo de relação sexual, seja ela hetero ou homossexual. O fato do meu amigo ter tido 2 parceiros no período de 1 ano foi um fator ELIMINATÓRIO, mas se ele tivesse dito que eram 2 mulheres estaria tudo bem. Por que?
Por que a pergunta não é substituída por: "Fez sexo que envolva penetração, sem preservativos no período de 1 ano?"
Eu entendo perfeitamente que existe um período em que o vírus HIV fica "encubado", e fica difícil dizer se o exame de sangue irá identificá-lo. Sei também que o número de infectados é maior no meio de homens que mantém relações sexuais com outro homem. Mas o fato dessas duas afirmações serem verdadeiras, não significa que um homem que seja hetero (ou diga que é) não tenha também o vírus "encubado" em seu corpo. O mesmo vale para mulheres que mantém relações com homens ou outras mulheres (no caso de homossexuais mulheres, a relação não é um critério eliminatório). Acho sinceramente que esse questionário pré-doação deveria ser reformulado, com perguntas que realmente pudessem SUGERIR que aquela pessoa possa ter o vírus, por causa de algum comportamento sexual "de risco".
Há risco na doação de sangue vinda de QUALQUER pessoa, não é o fato de um rapaz ter tido uma relação com um homem no período de 1 ano que dirá que ele tem mais risco de ter a doença, e ainda fazer disso um impedimento, quando muitos morrem por falta de doadores.
O ministério da saúde diz que não há mais o que chamávamos de "grupo de risco", mas se contradiz quando cria esse tipo de regra para a doação.
Acho que isso já deveria ter sido ELIMINADO há tempos. A AIDS NÃO TEM CARA! Pode existir um rapaz que tem até 10 parceiros homens diferentes dentro de 1 ano não ter o vírus, e outro homem que só teve 2 mulheres, possuir. Essa regra só mostra que a decisão do que é um comportamento promíscuo, parte do princípio que homens que fazem sexo com outro homem já podem ser considerados assim e ponto final. Num país que carrega a bandeira da luta pela igualdade, uma regra como esse é um atraso na nossa raíz.
Fiquei triste com o ocorrido, e fico imaginando quantos "Ivo's" sentem-se profundamente rejeitados com esse tipo situação.
Mas de qualquer forma, DOE SANGUE. O Ivo não pôde, então precisamos doar por ele. ;)



Para maiores informações sobre a doação voluntária, dê uma olhada no site do Hemorio

5 comentários:

  1. Adorei o primeiro tema. Olha, um dia fomos eu, uma amiga heterossexual e um amigo meu homossexual doar sangue. Na verdade eu só estava indo acompanhá-los, pois estava muito magrinho na época e não pude doar hehe Mas ocorreu esse mesmo fato com meu amigo, ele (como eu) desconhecia esse fato, eu fui questionar sobre isso mas disseram que era a nossa (velha) constituição e que eles mesmo achavam um absurdo isso. Concordo com o que foi escrito, não creio que há hoje em dia um grupo de risco e as evidências mostram que nos últimos anos mulheres têm contraído mais o vírus do que homens. A cada dia eu acredito que devemos parar de pedir para abrir brechas na constituição e pedir pra que a reformulem de vez, pois esses conceitos antiquados já não se enquadram na nossa realidade de hoje.

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  2. Esse tipo de pergunta aparece também nas forças armadas. Meus amigos do ensino fundamental e eu, por termos idades parecidas, somos da mesma turma de alistamento. Fizeram vários testes e perguntas mas q foram distintas pra cada um. para mim q sou negro perguntaram se eu conhecia alguém q participa do tráfico de drogas e para meu amigo q é bem claro perguntaram se ele já teve relação com outros homens. Esse tipo de discriminação por grupos e classes está em todos os estratos da sociedade.

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  3. Olá Marja. Inicialmente um beijão.
    Vou dar a MINHA opinião.
    Acredito que o Ivo era homossexual e assim sendo sujeito a estar com várias DST que ele possivelmente desconhecia e inclusive a AIDS.
    Diga sinceramente: VOCÊ RECEBERIA OU RECOMENDARIA PARA UM AMIGO O SANGUE DE UM AIDÉTICO? Ou de um cara que recebe esperma que pode estar infectado, pelo ânus? Nem eu...
    Acho que essa pergunta resume a questão.
    Beijão
    Alf

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  4. O Ivo não é mal informado, é um cara muito bem instruído e conhecedor sim das DST's.
    Eu não recomendaria o sangue de um aidético, por ser um sangue contaminado com uma doença que pode levar a pessoa à morte, mas o de um homossexual, por que não? Eu receberia também de uma mulher que TEM O RISCO DE estar recebendo sangue infectado pelo ânus ou pela vagina.

    Conforme eu disse, sou a favor do questionário que tem que fazer com o candidato, mas acho que a pergunta sobre a homossexualidade é irrelevante, tendo em vista que uma mulher que pratica o sexo anal também pode estar infectada, mas não será rejeitada por não ser um homem homossexual.

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  5. Marja, é assim porque o homossexual é potencialmente um aidético. Lembre-se de que a AIDS era conhecida como a doença do Homossexual. Hoje eles se previnem mais. Não quer dizer, entretanto, que estejam imunes a isso. A maioria das pessoas contaminadas com HIV continuam sendo os homossexuais (e as mulheres deles, infelizmente). Acho que não se trata de uma discriminação, mas de uma prevenção. Ivo pode até ser uma exceção à regra, mas regra, é regra!
    bjs.

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